A Oficina-Escola de Manguinhos (OEM) integra o Núcleo de Educação Patrimonial do Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz. Desde sua criação, em 2006, ela tem como objetivo preservar técnicas tradicionais de construção e das artes integradas à arquitetura. Com esse foco, foi iniciado no ano de 2013 o projeto “A arte e a técnica do Afresco – curso de pintura tradicional”. O curso, que hoje é patrocinado pela Fiotec através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei do ISS), tem explorado desde a elaboração de um projeto artístico para um mural de afresco, até sua execução, através de aulas teóricas e práticas, contando com 13 alunos.
A técnica consiste em uma pintura feita diretamente sobre a argamassa de cal, ainda fresca na parede, com pigmentos diluídos em água que penetram e se fundem a argamassa. As pinturas feitas por essa técnica têm grande durabilidade, justamente por serem pintadas com a argamassa ainda molhada.
A arte é milenar e tem grande expressão na Europa, um exemplo é o teto da Capela Sistina. Aqui no Brasil a técnica também já esteve em evidência, podemos vê-la em pinturas de Eliseu Visconti no Theatro Municipal e em pinturas de Cândido Portinari no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro.
Com o tempo a prática do Afresco vem desaparecendo e atualmente poucas pessoas têm conhecimento da técnica. Um dos objetivos do curso é justamente preservar essa arte “É um curso de grande contribuição para a sociedade, para a arte e para a cultura. Queremos criar uma nova geração de artistas que dominam o Afresco e que passarão essa técnica para frente”, explicou Cristina Coelho, coordenadora do Curso.
Outra finalidade do curso é preservar a memória de Lydio Bandeira de Mello, um dos poucos artistas brasileiros que domina com precisão a técnica do Afresco. Enquanto viveu na Europa, Bandeira executou dois murais no Santuário de Poggio Bustone, em uma pequena igreja construída por São Francisco de Assis em 1209 e reconstruída parcialmente após ser atingida por terremoto em 1948. Esse trabalho é considerado hoje umas das grandes obras brasileiras em âmbito internacional. “O Afresco é uma técnica que requer muito treino e dedicação. Não é qualquer um que tem mãos para isso. Aqui nesse curso os alunos estão melhorando a cada dia”, afirmou Bandeira de Mello.
Legado do curso
Previsto para o primeiro semestre de 2015, o projeto final do curso envolve a execução de murais de Afresco em edifícios de uso público, nas redondezas dos campi da Fiocruz em Manguinhos e Jacarepaguá. Essa é uma forma de propagar a técnica e dar um retorno para a sociedade dos recursos empregados na realização do curso. A população dos locais escolhidos poderão colaborar com a pesquisa para a criação do tema artístico a ser representado em afresco, e deverão participar da execução, a partir de um processo de seleção de auxiliares a critério da coordenação do curso.
Além disso, todo o curso está sendo filmado para que, ao final, seja montado um DVD contendo a técnica, a prática dos alunos e a história do professor Bandeira. O filme será a segunda edição da série “Mestre & Oficios da construção tradicional brasileira”, que tem como fim valorizar e divulgar a experiência de mestres artífices e seus ofícios tradicionais que possibilitam a preservação do nosso patrimônio arquitetônico
Lei de Incentivo à Cultura
Criada em dezembro de 1992, a Lei de ISS (conhecida como Lei de Incentivo a Cultura) prevê incentivo fiscal à realização e desenvolvimento de projetos voltados para a cultura, dentro no Município do Rio de Janeiro. Em abril de 2013 a Secretaria Municipal de Cultura publicou edital de chamamento público para o cadastro dos contribuintes e em maio foi divulgada a lista com as instituições habilitadas a fomentar atividades culturais do Rio de Janeiro, tendo a Fiotec como segundo maior orçamento disponível para patrocínio.
A coordenadora destacou a importância da Fiotec no projeto. “O patrocínio tem sido fundamental para continuidade do curso. Muitas vezes nosso orçamento não consegue englobar todas as nossas atividades e, eventualmente, acontecem cortes. O patrocínio é de extrema importância para mantermos determinados cursos, como esse, que resgata uma técnica milenar e mantém vivo o seu legado”, concluiu Cristina.
*Com informações da Casa de Oswaldo Cruz