Em celebração ao Mês da Consciência Negra, no dia 30 de novembro, a Fiotec promoveu uma conversa sobre Racismo Estrutural. A palestra contou com a presença da assistente social e ativista do movimento negro, Isabela Chaves, e teve como objetivo conscientizar os profissionais sobre a naturalização do preconceito.
O diretor executivo, Hayne Felipe, abriu a palestra citando uma frase de Angela Davis, filósofa estadunidense e militante do movimento: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Hayne afirma que o racismo não deve ser naturalizado entre os colaboradores e que deve ser colocado em pauta não apenas em datas especiais, mas o ano todo.
Isabela Chaves começou sua fala fazendo uma breve contextualização sobre o Dia da Consciência Negra e a história do líder Zumbi dos Palmares, símbolo de luta e resistência dos negros escravizados no Brasil. Segundo Isabela, falar sobre racismo estrutural é demarcar um espaço de desigualdade que vivemos no País.
Ao falar sobre a definição de racismo, a ativista explica que é toda distinção e exclusão baseada em raça, cor, descendência ou origem étnica, que tenha por objetivo anular ou restringir o exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais. Ela afirma que “a maioria das pessoas não se consideram racistas e mesmo assim não querem ser tratadas como um negro é tratado”, e que isso configura o racismo estrutural.
O racismo pode se apresentar de diversas formas. Entretanto, ele é explicado por três categorias distintas: o racismo individual, que condiz ao comportamento ou atitude individual de alguém; o racismo institucional, que é o resultado do mau funcionamento das instituições e empresas; e o racismo estrutural, que é um conjunto de práticas discriminatórias presentes em todas as relações de forma consciente e inconsciente.
Racismo tem cunho histórico e legislativo no Brasil
Historicamente falando, a sociedade brasileira foi estruturada para excluir a população negra e indígena. Isso porque nos séculos XVI e XIX foram marcados pelo sistema escravocrata, que ficou mais de 380 anos em vigor. “Sentimos até hoje o que foi esse período. Ao todo, temos mais tempo de escravidão no Brasil do que o próprio sistema democrata”, conta Isabela.
Na época, nem o sistema legislativo do Império era justo com os cidadãos. Em 1837, a primeira lei do Império proibia que os escravos e negros africanos frequentassem a escola. De acordo com análise feita pela assistente social, essa primeira norma já ditava que o País não era feito para pessoas pretas.
Após essa, vieram várias outras: Lei de Terras, que dizia que os negros não poderiam ter propriedades; a Lei do Ventre Livre, que não teve nenhuma efetividade, segundo a militante; a Lei do Sexagenário, que dava uma falsa liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade, já que estavam em condições precárias; e finalmente, a Abolição da escravatura, 388 anos depois. Isabela conta que, nessa época, a grande massa de pessoas negras já havia se revoltado e que a família real foi pressionada pela Inglaterra, principal parceira de negócios.
A Constituição atual nasce em 1988, e diz que o País irá repudiar o terrorismo e o racismo. “Isso não significa que vai combatê-lo. O Brasil não combate as mazelas deixadas pela escravidão de forma honesta. Sobre o racismo, falam que somos miscigenados e que esse tipo de preconceito não existe aqui”, complementa.
Estatísticas mostram a face de um Brasil racista
De acordo com Isabela Chaves, as estatísticas não mentem, “o Brasil ainda é governado por pessoas brancas, hétero, cis e – majoritariamente – católicas”. Veja algumas informações apresentadas na apresentação:
- Apenas 29,9% dos cargos de gerência no Brasil são ocupados por pessoas negras (IBGE 2018);
- 3 em cada 4 brasileiros negros estão entre os 10% mais pobres do País (IBGE 2018);
- Entre 1965 e 2014, apenas 10% dos livros brasileiros publicados foram de autores negros (Universidade de Brasília);
- Pessoas negras representam 72,9% da população desempregada no País (IBGE 2020);
- A cada cem pessoas assassinadas no Brasil, 75 são negras (Atlas da Violência 2020).
Ela ainda finalizou dizendo que todos devem ser antirracistas, principalmente as pessoas brancas, e deixou uma reflexão: “Observe quantos blogueiros pretos e pretas vocês seguem nas redes sociais. Quantos livros infantis seus filhos e sobrinhos têm com personagens negros? Quantos autores negros vocês já leram?”.