Entrevista | ‘Esperamos consolidar o acesso ao diagnóstico e tratamento em larga escala’ - Fiotec

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Entrevista: "esperamos consolidar o acesso ao diagnóstico e tratamento em larga escala"
Andréa Silvestre de Sousa (terceira da esquerda para a direita, de pé) ao lado de parte da equipe Fiocruz envolvida no projeto CUIDA Chagas (foto: Victor Santos/Fiotec)

Desde 2021, a Fiotec integra um consórcio internacional com a missão de contribuir para a eliminação da transmissão vertical da doença de Chagas na América do Sul, melhorando e ampliando o acesso ao diagnóstico, tratamento e cuidado para as pessoas afetadas, atuando através de uma estratégia que combina estudos de implementação e inovação, engajamento comunitário e intervenção no mercado.

O Projeto CUIDA Chagas – “Comunidades Unidas para Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas” – é liderado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) da Fiocruz e conta com o apoio logístico, administrativo e financeiro de sua fundação de apoio, a Fiotec. Em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, atuam o Instituto Nacional de Laboratorios de Salud (INLASA), da Bolívia; o Instituto Nacional de Salud (INS), da Colômbia; o Servicio Nacional de Erradicación del Paludismo (SENEPA), do Paraguai; e a FIND, a aliança global para diagnósticos. O consórcio é financiado pela Unitaid e cofinanciado pelo Ministério da Saúde do Brasil.

Conversamos com a pesquisadora principal do projeto, Andréa Silvestre de Sousa, sobre os desafios já superados e as perspectivas para o futuro do CUIDA Chagas:

Onde as ações do consórcio estão presentes e quais são os principais desafios enfrentados?
O projeto está sendo desenvolvido em 36 municípios de quatro países: Bolívia, Brasil, Colômbia e Paraguai. No Brasil estamos em 11 cidades, com representações nas cinco macrorregiões brasileiras nos protocolos de implementação (Igarapé-Miri/PA; Riachão das Neves/BA; Paraúna/GO; Janaúba/MG; e Rosário do Sul/RS) e inovação (Manaus/AM; Recife/PE; Goiânia/GO; Montes Claros/MG; Rio de Janeiro/RJ; e Santa Maria/RS).

Nossos principais desafios foram iniciar as atividades na Bolívia e Colômbia em meio a mudanças frequentes no cenário político desses países, e organizar os fluxos de atuação na atenção primária à saúde, construindo ou revalidando pactuações nem sempre existentes no cenário de uma doença negligenciada.

Quais soluções já foram implementadas pelo CUIDA Chagas e sobre quais outras o consórcio se debruça hoje?
Implementamos o teste rápido de forma universal para a triagem de mulheres em idade fértil, uma estratégia inovadora e inédita nos países onde atuamos. Com isso, ampliamos significativamente o acesso ao diagnóstico em populações com baixa cobertura de atenção primária à saúde. Além disso, estruturamos fluxos descentralizados para a confirmação sorológica do diagnóstico, especialmente em regiões anteriormente desassistidas, como o sul do Brasil e áreas do Paraguai.

Também introduzimos o diagnóstico precoce de recém-nascidos expostos à infecção por transmissão vertical, utilizando biologia molecular (PCR) com o kit padronizado NAT Chagas. Essa abordagem permitiu avançar no enfrentamento da transmissão congênita da doença de Chagas, uma condição historicamente subdiagnosticada e negligenciada em nosso continente.

Garantimos o fornecimento regular de insumos diagnósticos e medicamentos antiparasitários às unidades de atenção primária dos quatro países, superando lacunas críticas de disponibilidade. Paralelamente, desenvolvemos um sistema próprio de gestão de dados, que além de apoiar a coleta e análise das informações do projeto, vem sendo compartilhado com gestores nacionais, contribuindo para o fortalecimento dos sistemas de informação em saúde.

Quais são as projeções do Consórcio para este ano? Em que estágio o CUIDA Chagas pretende estar no fim de 2025?
Até o final de 2025, o CUIDA Chagas pretende estar com o estudo de implementação ativo nos quatro países participantes, com o objetivo de alcançar a meta de testagem de mulheres em idade fértil, seus filhos e contactantes domiciliares. Esperamos consolidar o acesso ao diagnóstico e tratamento em larga escala, especialmente em áreas de baixa cobertura da atenção primária.

Além disso, projetamos concluir a primeira etapa de capacitação dos profissionais de saúde da atenção primária nos quatro países, com mais de 1.500 profissionais certificados por meio da plataforma Campus Virtual Fiocruz, fortalecendo a capacidade local para o enfrentamento da transmissão vertical da doença de Chagas. Também é nossa meta concluir o recrutamento de participantes do ensaio clínico e do estudo de inovação diagnóstica no Brasil, além de dar continuidade ao projeto de inovação diagnóstica em atividade na Bolívia, garantindo avanços importantes na avaliação de novas tecnologias e estratégias de cuidado.

Como você enxerga o papel da Fiotec no consórcio? O que poderia destacar sobre a atuação da instituição?
A Fiotec desempenha um papel estratégico e essencial no consórcio, oferecendo suporte logístico e financeiro fundamental para a implementação das atividades nos quatro países envolvidos. Além disso, disponibiliza infraestrutura física para a equipe do projeto baseada no Rio de Janeiro, o que facilita a realização de reuniões e o trabalho cotidiano. Um dos destaques da atuação da Fiotec é sua capacidade de conduzir processos de compras internacionais, inclusive em contextos complexos, como na Bolívia, onde há dificuldades relacionadas ao câmbio e à disponibilidade de divisas.

A instituição também tem buscado soluções inovadoras para viabilizar ações em áreas remotas do Brasil, onde frequentemente enfrentamos a escassez de fornecedores qualificados. Ao apoiar um projeto voltado para uma doença negligenciada, a Fiotec encara o desafio adicional de garantir o acesso a insumos cuja oferta é limitada. Nesse sentido, sua atuação contribui diretamente com um dos objetivos estratégicos do projeto: ampliar o acesso ao mercado e fortalecer a cadeia de suprimentos necessária para a execução das ações.