Entrevista | ‘Essa é uma grande experiência, que deve ser levada a outros países’ - Fiotec

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Entrevista: 'essa é uma grande experiência, que deve levada a outros países'

Atualizar a Carta Entomológica de Angola: este é o objetivo central do projeto Redisse IV, uma parceria entre os ministérios da saúde do Brasil e Angola, com financiamento do Banco Mundial. Especialistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) integram uma equipe multidisciplinar que atua no mapeamento e vigilância dos principais vetores de doenças no país africano, como mosquitos, moscas, carraças e triatomíneos, conhecidos popularmente como barbeiros.

A execução da iniciativa acontece por meio da Vice-Presidência de Saúde Global e Relações Internacionais (VPSGRI), com apoio da Fiotec em sua gestão financeira e logística. Ao longo do mês de agosto, os pesquisadores da Fiocruz estiveram em diversas províncias de Angola realizando a fase 2 do projeto, com a formação dos agentes de vigilância angolanos, além da captura e análise de vetores em diferentes biomas do país.

A Fiotec acompanhou parte do trabalho feito pelo projeto em Angola e conversou com sua coordenadora técnica, Genimar Rebouças Julião. Confira:

Quais foram os principais critérios para definir a estratégia de atualização da Carta Entomológica de Angola?
Os dois principais critérios para definir essas estratégias foram pilares centrados na sustentabilidade, ou seja, na formação de recursos humanos continuada e que esses recursos humanos fossem capazes de se tornar multiplicadores e capilarizar o conhecimento difundido ao longo das nossas formações, dos nossos treinamentos, tanto os teóricos quanto os práticos. E o outro pilar da estratégia é a integralidade.

Nessa integralidade, nós adotamos a abordagem da Saúde Única, ou uma só saúde. É uma abordagem que considera a indissociação entre o homem, o animal, o meio ambiente e trouxemos essa visão também para o mapa entomológico, considerando os agravos, as doenças que assolam a Angola.

E como a Fiocruz estruturou a articulação com os parceiros locais e internacionais nesse projeto?
A Fiocruz, por meio do Centro de Relações Internacionais em Saúde, o Cris, estruturou esse projeto com pontos focais. Então foram criadas ‘áreas de atuação’ tanto no Brasil quanto em Angola. Toda essa articulação foi feita entre o Cris e as coordenações locais de Angola.

A ideia de se ter pontos focais é garantir a melhor execução possível para o projeto. Então você tem pontos focais de gestão, pontos focais de logística, pontos focais para cada tipo de vetor ou de agravo de doença. E esses pontos focais passaram a interagir, se integraram e definiram as melhores linhas de ação para a coleta de dados entomológicos e também para a formação dos profissionais.

Quais são os maiores aprendizados de um projeto executado em território tão extenso e diverso como Angola?
A equipe de brasileiros da Fiocruz tem adquirido muito conhecimento aqui em Angola. Nós temos tido esse privilégio de interagir com uma equipe de vigilância [local, de Angola] já muito bem estruturada.

Então, isso foi definitivamente um grande aprendizado: que uma equipe e um programa bem estruturados, de vigilância entomológica, já possuem certas habilidades para que a vigilância integrada a outros vetores de doenças seja implementada. Um segundo aprendizado foi a importância das atividades colaborativas.

Isso, a colaboração entre os membros das equipes do Brasil e de Angola tem garantido a nós bons resultados: uma boa condução do projeto, uma boa execução.

Um outro ponto importante de aprendizado é a importância da formação de recursos humanos. Não só para a vigilância, entomológica ou epidemiológica, mas a formação em nível de graduação, de pós-graduação e a formação de recursos humanos para pesquisa científica. Então, nós temos lacunas de conhecimento científico em Angola, que carecem de pessoas explorando essas largas avenidas sobre a identidade de vetores de doenças negligenciadas e até mesmo a geração de conhecimento científico, ou seja, a divulgação dessa informação científica por meio de publicações científicas colocando Angola num cenário internacional da ciência.

Como esse trabalho pode servir de modelo para outras iniciativas em países com desafios semelhantes?
A iniciativa do Governo Angolano em investir na vigilância entomológica, ela serve de exemplo para outros países no sentido de que há uma simultaneidade nas ações. Então, vários níveis dentro da vigilância de Angola estão participando dessas formações técnicas simultaneamente e de forma integrada. Esse é um grande diferencial e ensinamento, e uma grande experiência que deve ser levada a outros países.

Então, essa experiência pode ser levada para outros países por conta desse diferencial de mobilizar todos os profissionais da vigilância, de todos os níveis, simultaneamente. Então, neste exato momento, está havendo uma grande mobilização.

Os profissionais da vigilância estão envolvidos nas atividades, nas coletas entomológicas, nas atividades de formação técnica e ainda em seu planejamento, pensando em como superar os desafios na vigilância. Então, podemos considerar avanços aquilo que a vigilância local ganha e o que tem tido de benefícios, principalmente saber lidar com os desafios que podem surgir no futuro.